segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Lɛ̆gbà, “Legbá”, Èşù, Elegbara: jeje, nagô ou nagô-vodun


Nagô-Vodun é o termo usado para designar voduns cultuados na confluencia Jeje-Nagô das religiões tradicionais afro-brasileiras. Os Nagô-Voduns, seriam, na verdade, orixás, pois são de origem nagô. Os principais são: Gú (Ogun), Odé, Oyá, Oxum, Obá, Iemanjá, Oxaguian e Oxalufã. Nós do Jeje Savalu os denominamos por Jonɔ-Vodun (pronúncia Jônó-Vôdún, que significa vodun estrangeiro, ou melhor, vodun convidado. E como fica nessa história, o Vodun Legbá?
Lebá (Lεgbà, em fongbé) é um vodun do Golfo do Benin. É uma figura singular nesta região, por ser extremamente diversificado em suas funções e em sua materialização, e constantemente presente e invocado. Todos estes aspectos surpreendentes em mais de uma maneira, sempre chamaram a atenção de várias religiões, principalmente das religiões Abraâmicas “majoritárias” (principalmente o cristianismo e o islam), que buscam associa-los às suas respectivas personalizações do mal (diabo, satanás, lúcifer, etc.). Legbá é um Vodun muito importante, tanto no Benin (República Popular do Benin), um pais da parte ocidental da África, onde ficava o antigo reino do Daomé) como na diáspora, por ser aquele que tem como atributos ser o protetor e o mensageiro entre os homens e os Voduns e em todos os Hùnkpámè (conventos de Vodun) do Benin, este Vodun é louvado e oferendado no ritual do Zandró. No Brasil esse vodun não é feito e, portanto, não há vodunsì que seja tomado por ele em transe. Na África, origem do culto vodun Jeje que foi trazido pelos ancestrais africanos para o Brasil, há vodunsì dedicadas a este vodun, recebendo a denominação de legbásì. Legbá é o correspondente Jeje do orixá Exu dos iorùbá. É o filho mais jovem do par  Criador Vodun Mawu-Lissá ou Dadá-Segbo. Legbá sempre é cultuado primeiro, antes de do que qualquer Vodun. Esta regra jamais é esquecida pelo povo Fòn, nem pode ser esquecida por nós, seus descendentes na Diáspora no Brasil, pois é ele que se encarrega de deixar passar qualquer tipo de oferenda seja a que Vodun for. Destaco aqui, um ponto interessante representado por algumas partes do cântico inicial no nosso Jeje Savalú do nosso Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, quando cantamos para Lεgbà. A orquestra se reúne e o Solista dá início cantando assim:

Êlebara Vodun asa kêrêkêrê”.

E os demais, músicos e a assistência respondem, repetindo esse verso. A tradição de sonoridade afro-brasileira da qual sou membro nato, me dirige para a seguinte interpretação da etimologia Iorubá das palavras pronunciadas, de tal forma que poderia transcrever a letra do cântico entoado nesse áudio, como:

Ẹlẹgbára Vodun aṣa kẹ̀rkẹ̀rẹ....

A tradução literal da frase acima seria algo como: “Vodun Dono da Força de culto pequeno”. Porém o sentido da palavra “kẹ̀rkẹ̀r” (ou “kerekere”, que significa “pequeno, pequena em primeira instancia), é enfatizar o cuidado que se deve ter ao cultural Lɛ̆gbà, Èşù, ou Elegbara, que vem a ser o Exú do quêto-nagô. Na sequência de cânticos podemos destacar em seguida uma parte na qual cantamos,

Êlebara runxi naa de wa kêrêkêrê”.

E os demais, músicos e a assistência respondem, repetindo esse verso. O texto nos remete, ao seguinte texto Fón-Iorubá, onde Lεgbà é referido como Elegbara, e nesse mesmo texto aparece a palavra ioruba “kerekere” na língua Fón [Fɔngbè]:

« Elegbara Hùnsì náá dé wa kere kere »
 
que seria traduzido como: “Dono da Força Vodunsi chega (aterrissa) diretamente,

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