terça-feira, 23 de agosto de 2016

“Labutenta”, a alegria do bom amadurecimento sob o signo de Legbá


 
 
Espalhando o tapete da maturidade por sobre tudo.

 Legbá é realmente uma figura singular da religião Vodun. Dentre  todos os aspectos surpreendentes que identificam essa personagem, está a sua visão de moral e de decência, por não se enquadrar nas premissas cirstãs de admissão de divindades e personagens santificados que encarnam um bem e uma virtude distantes do ser humano que luta pela sobrevivencia sobre a superficie do planeta terra.Ou seja,Legbá como outros Voduns e Orixás, é real e próximo do homem.
            Para a imensa maioria do popular segmento afro-religioso quêto-nagô, Legbá é Exú, e com tal, é um dos Orixás mais importantes tanto da tradição e culto orixá, quanto do culto a Ifá, o deus que dita o destino das pessoas e só revela o conteúdo a Exú. Os cristãos e os muçulmanos vêm desde muito tempo tentando denegrir a figura desse orixá, equiparando-o com seu próprio satã, diabo, demónio, Lucífer e outros malfeitores das suas respectivas religiões.Em verdade, Exú é um Orixá tão bom quanto os outros. Na África, as pessoas que nascem sob o signo de Exú, ou seja, que são filhos dele, tendo s devotos tem nomes como Exúyemi, Exúkayode, Exúbunmi, Exúkorede, Exúyomi, Exúfunmike, Exúfunmilade, Exúwemimo, Exútoosin, Exútola, Exújide, Exútunde, Exútunmise, Exúrinde, Exúfunmilayo e assim por diante. Exú é celebrado em festivais anuais na Nigéria e em várias outras cidades e vilas que compõem a Iorubalândia.
Começou o nosso ciclo de obrigações desse ano vodun de 2016. Abrimos o ciclo com uma clebração interna para Legbá, e nesse ano, juntamos aos nossos motivos de agradecimento celebrar a alegria do nosso reconhecimento como Bem Cultural do município. O nosso terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, localizado no bairro do Curuzu, em Salvador, é,  de acordo com a Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (AFA), somos um dos poucos que restam da nação Jeje Savalu e que mantém os ritos originais da linhagem, assim como o dialeto africano Ewe-Fòn preservado nas expressões e cânticos da comunidade. Em uma sexta-feira 15 de janeiro, o nosso templo religioso foi o primeiro a ser tombado com base na Lei de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Salvador (8.550/2014).  O evento de tombamento reuniu autoridades e povo de axé e foi realizado pela Prefeitura de Salvador com apoio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), que foi representada pelo presidente da Fundação Pedro Calmon, Zulu Araújo. "Considero esse tombamento duplamente importante. Primeiro porque é no Curuzu, que tem uma simbologia importantíssima, pois é o bairro mais negro da cidade de Salvador.
Por esse e por outros motivos, encerramos a festividade para Legbá, (que abre oficialmente nosso ciclo) com o cântico “Labutenta”, ou “Làbú ń tẹ́ni ń ta”, um cântico em língua nagô que diz o seguinte:
Làbú ń tẹ́n`ń ta, Làbú ń tẹ́n`ń ta,Gbogbo AMIN (repete várias vezes).
Os convidados também cantam, e como nós também, segundo uma sonoridade bem abrasileirada, que faz com que o `cântico se transforme na segunte melodia :

« Labutenta, Labutenta bobo amin » (repete várias vezes),


ao som da percussao . A tradução  é :(vamos) Espalhar o tapete da maturidade por sobre tudo. Analisando por partes, temos a frase Ioruba : Làbú ń tẹ́ni ń ta, onde :
Làbú = crescer para a maturidade, amadurecer, etc. ;tẹ́ni = tapete ; Tá = derramar,

Referencias

1.    A Dictionary of the Yorùbá Language ; University Press PLC, Foudex Press Limited, Ibadan, Nigeria



 

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Lɛ̆gbà, “Legbá”, Èşù, Elegbara: jeje, nagô ou nagô-vodun


Nagô-Vodun é o termo usado para designar voduns cultuados na confluencia Jeje-Nagô das religiões tradicionais afro-brasileiras. Os Nagô-Voduns, seriam, na verdade, orixás, pois são de origem nagô. Os principais são: Gú (Ogun), Odé, Oyá, Oxum, Obá, Iemanjá, Oxaguian e Oxalufã. Nós do Jeje Savalu os denominamos por Jonɔ-Vodun (pronúncia Jônó-Vôdún, que significa vodun estrangeiro, ou melhor, vodun convidado. E como fica nessa história, o Vodun Legbá?
Lebá (Lεgbà, em fongbé) é um vodun do Golfo do Benin. É uma figura singular nesta região, por ser extremamente diversificado em suas funções e em sua materialização, e constantemente presente e invocado. Todos estes aspectos surpreendentes em mais de uma maneira, sempre chamaram a atenção de várias religiões, principalmente das religiões Abraâmicas “majoritárias” (principalmente o cristianismo e o islam), que buscam associa-los às suas respectivas personalizações do mal (diabo, satanás, lúcifer, etc.). Legbá é um Vodun muito importante, tanto no Benin (República Popular do Benin), um pais da parte ocidental da África, onde ficava o antigo reino do Daomé) como na diáspora, por ser aquele que tem como atributos ser o protetor e o mensageiro entre os homens e os Voduns e em todos os Hùnkpámè (conventos de Vodun) do Benin, este Vodun é louvado e oferendado no ritual do Zandró. No Brasil esse vodun não é feito e, portanto, não há vodunsì que seja tomado por ele em transe. Na África, origem do culto vodun Jeje que foi trazido pelos ancestrais africanos para o Brasil, há vodunsì dedicadas a este vodun, recebendo a denominação de legbásì. Legbá é o correspondente Jeje do orixá Exu dos iorùbá. É o filho mais jovem do par  Criador Vodun Mawu-Lissá ou Dadá-Segbo. Legbá sempre é cultuado primeiro, antes de do que qualquer Vodun. Esta regra jamais é esquecida pelo povo Fòn, nem pode ser esquecida por nós, seus descendentes na Diáspora no Brasil, pois é ele que se encarrega de deixar passar qualquer tipo de oferenda seja a que Vodun for. Destaco aqui, um ponto interessante representado por algumas partes do cântico inicial no nosso Jeje Savalú do nosso Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, quando cantamos para Lεgbà. A orquestra se reúne e o Solista dá início cantando assim:

Êlebara Vodun asa kêrêkêrê”.

E os demais, músicos e a assistência respondem, repetindo esse verso. A tradição de sonoridade afro-brasileira da qual sou membro nato, me dirige para a seguinte interpretação da etimologia Iorubá das palavras pronunciadas, de tal forma que poderia transcrever a letra do cântico entoado nesse áudio, como:

Ẹlẹgbára Vodun aṣa kẹ̀rkẹ̀rẹ....

A tradução literal da frase acima seria algo como: “Vodun Dono da Força de culto pequeno”. Porém o sentido da palavra “kẹ̀rkẹ̀r” (ou “kerekere”, que significa “pequeno, pequena em primeira instancia), é enfatizar o cuidado que se deve ter ao cultural Lɛ̆gbà, Èşù, ou Elegbara, que vem a ser o Exú do quêto-nagô. Na sequência de cânticos podemos destacar em seguida uma parte na qual cantamos,

Êlebara runxi naa de wa kêrêkêrê”.

E os demais, músicos e a assistência respondem, repetindo esse verso. O texto nos remete, ao seguinte texto Fón-Iorubá, onde Lεgbà é referido como Elegbara, e nesse mesmo texto aparece a palavra ioruba “kerekere” na língua Fón [Fɔngbè]:

« Elegbara Hùnsì náá dé wa kere kere »
 
que seria traduzido como: “Dono da Força Vodunsi chega (aterrissa) diretamente,

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Roncó, Huko ou “Hùnclós”: Qual a origem do termo “recolhimento” para a iniciação?


No Savalu do nosso Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, as Forças da Natureza têm suas principais representações nos Clãs e Famílias que se distribuem em grupos distintos, relacionados com dimensões do cosmo. Há os Voduns da Terra, conhecidos também como Ayi-voduns, e chefiados por Sapatá. Há os Voduns do Céu, encabeçados por Hevioso e Mawu-Lissa, conhecidos também como Ji-voduns.  De modo geral as divindades adoradas no nosso templo se classificam segundo os seguintes clãs: I) Clã de Dan, ou das Serpentes, liderado por Dan Gbê ou Bessém e sua consorte Dan Frequém, compondo um divino casal de serpentes. II)  Clã de Heviossô, ou dos Voduns Kavionos,(nossa herança dos nossos ancestrais de Kavi) que envolve as Famílias do Trovão e compreende todos os Ji-Voduns, Sò-voduns e Tò-voduns, num conjunto liderado pelo patrono Sobô (Sògbó). No complexo arranjo dessa teo-cosmologia, as famílias divinas se distribuem, pois, por diferentes linhagens. A dos Só-Voduns liga-se de forma direta ao fogo celeste (aos raios). A dos Tó-Voduns, domina as águas: pertencem a este horizonte os voduns Averequete (Aveklete), Aziri(Azili) Tolá, Aziri Kaiá, Naê Aziri e Aziri Tobôssi, entre outros. Entre os Só-Voduns o divino Adaen tem elevado posto. O Vodun Jó se vê assimilado ora a Sobô (de que Adaen é por vezes considerado um avatar), ora a Oyá. Esse vodun ligado com os ventos é considerado uma divindade mahi, ou jeje marrim.

Para saber se uma pessoa precisa ser iniciada ou não, no Savalu, o Bafono [Fá-Bokɔ́nɔ̀] vai ao jogo e pergunta. Caso a reposta seja positiva o processo iniciatico se deslancha de fato, a partir da adimissão do candidato ao roncó, que o nome genércio dado ao Santuário onde ficam recolhidos os noviços. Mas que palavra é essa? O que significa?...Bem, pelo grafia em Portugues (uma tentativa de associar silabas ao som das palavras, mas esse som não existe na sonoridade da comunicação moderna texto fón ou ioruba (talvez seja uma palavra antiga) Ou seja, nem em língua fón nem em lingua Iorubá vamos encontrar a palavra roncó. Encontra, contudo a palvra Huko (que se lê “rrukô”). Considerando que a palavra certamente tem origem na liturgia jeje e certamente praticada em lingua mina-jeje e/ou fón e mais ainda que a colonização francesa do Daomé produziu a sua herança que nos alcança nos dias de hoje, temos a opção Hunclos, visto que a expressão em frances par designiar o Santuário no qual se dá a iniciação do Vondusi, ou Humpame [Hùnkpámɛ̀]  seria Enclos d'un vodoun (recinto do Vodun), então poderimaos ter a palavra Hunclo, como resultado da soma/associação das palavras Hun (Vodun) + a palavra "enclos " corrompida e aaportuguesada para runkó ou roncó. Vodun kpao nã de ji!

  Referencias:

1.    Bénin : Le Vodun au Bénin, par Flore Hervé et Marie Mattera Corneloup ;  http://www.missions-africaines.net/benin-le-vodun-au-benin-par-flore-herve-et-marie-mattera-corneloup/

2.    Imagem :Frontal do Vodun Zo