Meu pai Doté Amilton, Xò ɖɛ̀ nú mì!
Na lida com as coisas do Culto Vodun, aparecem com muita frequência,
oportunidades de contatos com eventos e pessoas envolvidas em práticas afins.
Foi por causa disso que tive a oportunidade de receber um presente em forma de
CD, com o título “Salmo dos Orixás”. Aproveito para pedir a benção a Pai Roberto
de Iansã, pelos textos inspirados, os quais, sem dúvida, são legítimos Salmos:
Kolofe,Baba mi Roberto de Iansã!
E aproveito também, para pedir a benção ao Tata de
Omolu, pela brilhante interpretação das cantigas.
Mukuiu, Tata!
Ai, ouvindo o referido CD, no rádio do carro, fui
tomado de encantamento por todas as faixas sem exceção. Entretanto, devo
ressaltar o particular impacto que me causou uma das faixas: A faixa número 5,
na qual o querido Tata (depois da leitura brilhante de um texto/salmo, pelo competente
narrador Rivaldo Luna) entoa (tendo ao fundo o trabalho perfeito de meus irmãos
Ogãs como eu, Xulipa, Mexicano e Pingo:
A Benção, meu Ebonmis)
um cântico ao Orixá Iroko. Bem, a letra do cântico
diz, mais ou menos,assim:
Arran setó
a darun be
Vodun
eda werê
Ahan setó
a darun be
Vodun
eda werê
QUE MARAVILHA! Sem necessidade retoque.
Ai, a espiritualidade me
trouxe um momento de reflexão.
Se aceitamos que o fraseado mistura termos da
língua Fon e termos da língua Ioruba, e aí vamos perceber a referência a `Òlúwèrè`, lá no trecho final do cântico. Os mais velhos
costumam dizer que aos pés das grandes árvores também moram espíritos infantis
chamados de ábíkú ( que se lê ´abiku´e significa ´a vida que provém da morte) que são comandados por
Òlúwèrè. O Orixá Iroko,da
tradição Keto-Iorubá-Nagô, tem como correspondente na nossa tradição Ewe-Fon-Ioruba-Nagô, o Vodun Lòkó. Aliás, a pronúncia da palavra ´Vodun´, em um
cântico para o Orixá Iroko, nos remete a um sincretismo entre as duas culturas:
Ewe-Fon-Ioruba-Nagô,e Keto-Ioruba-Nagô. Para nós do Culto Vodun, Loko é um Atinmé-vodun ("vodum que ´vive´ dentro da árvore"). Loko é
um Vodun que representa o primeiro ser sagrado do mundo, e é por isso, considerado o primogênito de Mawu e Lissá (muito embora Sakpatá seja, muitas
vezes, reconhecido com esta atribuição). Loko é cultuado em toda partes, tanto
pode ser cultuado como um Ji-vodun (Vodun da chuva) , como um Ayi-vodun (Vodun da
terra) assim como também um Tô-vodun(vodun local) e /ou um Henu-vodun (Vodun chefe de
clã, vodun clânico). Os vodúnsis de Lòkó são chamados de Lokosi, e em
muitos casos, têm os cabelos raspados apenas na metade esquerda do crânio. A
partir dessa joia que ganhei de presente, andei até a minha plataforma de
trabalho dentro do lado Ewe-Fon, da
minhaTradição, e tomei a liberdade de re-escrever o texto do cântico,
tomando como base alguns fraseados da Fongbe,ou
língua Fon, e ai a cantiga ficou assim:
A hã sɛ tó
a da hungbe,
Vodun
e dã Hwémè.
A hã sɛ tó
a da hungbe
Vodun e dã Hwémè
Não nos corte a vida falamos na língua ritual Vodun,
Vodun brilha mais que o (Sol) meio-dia
Lòkò é o guardião da
maior joia da ritualística do nosso candomblé Jeje: o hunjegbe (lê-se runjebe ou runjeve) que representa a
passagem da vida para morte, tendo como senhor o Vòdún Dàn. Dentro da Nigéria, é muito extenso
o culto a Ìròkò, sendo sempre feito pedidos a essa divindade.
A benção Humbono Charles
A benção Humberto d´Otolu
Sou o Mawo Adelson
Referencias:
1. CD
musical; Associação Civil Filhos de Bárbara; Secretaria de Promoção
2. Humbono Charles;
Candomblé, o mundo dos orixás; disponível em: https://ocandomble.wordpress.com/2012/08/05/o-vodun-legba-e-a-classificacao-do-panteao-vodun/
(acessado em: 01/03/15)
3. Humberto
d´Otolu;
4.
Imagem:
http://www.planetware.com/tourist-attractions/california-usca.htm#US-CA-SQNP
(acessado em: 02/03/15)
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