segunda-feira, 2 de março de 2015

Vodun Lòkó



Meu pai Doté Amilton, Xò ɖɛ̀ nú mì!

Na lida com as coisas do Culto Vodun, aparecem com muita frequência, oportunidades de contatos com eventos e pessoas envolvidas em práticas afins. Foi por causa disso que tive a oportunidade de receber um presente em forma de CD, com o título “Salmo dos Orixás”. Aproveito para pedir a benção a Pai Roberto de Iansã, pelos textos inspirados, os quais, sem dúvida, são legítimos Salmos:

 
Kolofe,Baba mi Roberto de Iansã!

E aproveito também, para pedir a benção ao Tata de Omolu, pela brilhante interpretação das cantigas.

Mukuiu, Tata!

Ai, ouvindo o referido CD, no rádio do carro, fui tomado de encantamento por todas as faixas sem exceção. Entretanto, devo ressaltar o particular impacto que me causou uma das faixas: A faixa número 5, na qual o querido Tata (depois da leitura brilhante de um texto/salmo, pelo competente narrador Rivaldo Luna) entoa (tendo ao fundo o trabalho perfeito de meus irmãos Ogãs como eu, Xulipa, Mexicano e Pingo:

A Benção, meu Ebonmis)

um cântico ao Orixá Iroko. Bem, a letra do cântico diz, mais ou menos,assim:

Arran setó a darun be

Vodun eda werê

Ahan setó a darun be

Vodun eda werê

QUE MARAVILHA! Sem necessidade retoque.
Ai, a espiritualidade me trouxe um momento de reflexão.
Se aceitamos que o fraseado mistura termos da língua Fon e termos da língua Ioruba, e aí vamos perceber a referência a `Òlúwèrè`, lá no trecho final do cântico.  Os mais velhos costumam dizer que aos pés das grandes árvores também moram espíritos infantis chamados de ábíkú ( que se lê ´abiku´e significa ´a vida que provém da morte) que são comandados por Òlúwèrè. O Orixá Iroko,da tradição Keto-Iorubá-Nagô, tem como correspondente na nossa tradição Ewe-Fon-Ioruba-Nagô, o Vodun Lòkó. Aliás, a pronúncia da palavra ´Vodun´, em um cântico para o Orixá Iroko, nos remete a um sincretismo entre as duas culturas: Ewe-Fon-Ioruba-Nagô,e Keto-Ioruba-Nagô. Para nós do Culto Vodun, Loko é um Atinmé-vodun ("vodum que ´vive´ dentro da árvore"). Loko é um Vodun que representa o primeiro ser sagrado do mundo, e é por isso, considerado o primogênito de Mawu e Lissá (muito embora Sakpatá seja, muitas vezes, reconhecido com esta atribuição). Loko é cultuado em toda partes, tanto pode ser cultuado como um Ji-vodun (Vodun da chuva) , como um Ayi-vodun (Vodun da terra) assim como também um Tô-vodun(vodun local) e /ou um Henu-vodun (Vodun chefe de clã, vodun clânico). Os vodúnsis de Lòkó são chamados de Lokosi, e em muitos casos, têm os cabelos raspados apenas na metade esquerda do crânio. A partir dessa joia que ganhei de presente, andei até a minha plataforma de trabalho dentro do lado Ewe-Fon, da  minhaTradição, e tomei a liberdade de re-escrever o texto do cântico, tomando como base alguns fraseados da Fongbe,ou língua Fon, e ai a cantiga ficou assim:

 

A hã sɛ tó a da hungbe,

Vodun e dã Hwémè.

A hã sɛ tó a da hungbe

Vodun e dã Hwémè
Cuja nossa tradução para o Português fica mais ou menos assim: 


Não nos corte a vida falamos na língua ritual Vodun,

Vodun brilha mais que o (Sol) meio-dia 

Lòkò é o guardião da maior joia da ritualística do nosso candomblé Jeje: o hunjegbe (lê-se runjebe ou runjeve) que representa a passagem da vida para morte, tendo como senhor o  Vòdún Dàn. Dentro da Nigéria, é muito extenso o culto a Ìròkò, sendo sempre feito pedidos a essa divindade.

A benção Humbono Charles

A benção Humberto d´Otolu

Sou o Mawo Adelson

Referencias:

1.    CD musical; Associação Civil Filhos de Bárbara; Secretaria de Promoção

2.    Humbono Charles; Candomblé, o mundo dos orixás; disponível em: https://ocandomble.wordpress.com/2012/08/05/o-vodun-legba-e-a-classificacao-do-panteao-vodun/ 

 (acessado em: 01/03/15)

3.    Humberto d´Otolu;


4.    Imagem:


 

 

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Arroboboi, ou « Ahóahó Gbógbó Yέ » ?





Meu pai Doté Amilton: Xò ɖɛ̀ nú mì,`sua Benção`

Em seus estudos sobre as religioes dos africanos através do atlântico, o Dr. James L. Matory escreveu: “Nenhuma religião é pura, ou desprovida de influências culturalmente heterogêneas. No entanto, o que é notável sobre a nação Jeje não é apenas o seu papel fundamental no Candomblé durante o século XVIII, mas também o sucesso inicial e extraordinário de seus filhos, livres como Joaquim d'Almeida, Joaquim Devodê Branco, e Lourenço Cardoso, na promoção das trocas comerciais e culturais em curso entre a Baixa Costa da Guiné e o Brasil entre o início do século XIX e início de XX. As suas atividades e as dos outros migrantes circulares entre Bahia e África Ocidental deixou uma marca duradoura em não só os "grandes" casas de Candomblé do século XIX, mas também as grandes cidades do Brasil e as futuras nações do Benin, Togo e Gana. Alguns dos descendentes desses jejes brasileiros peregrinos, transmigrantes e comerciantes se tornariam presidentes desses estados-nações do Oeste Africano no século XX”. Esta localização geográfica coloca jejes e nagôs em uma mesma página da história desses povos na Diáspora que alcança o Brasil, e em particular singulariza a nossa Bahia, berço preferencial que embalou e nutriu o segmento cultural hibrido ao qual, hoje, alguns estudiosos fazem referencia usando a designação “Jeje-nagô”

O que podemos retirar desse trecho, é a constatação de um intercambio de ideias,costumes e tradições entre jejes e nagôs, e aplicando um pouco do conhecimento (ainda em franco processo de aquisição, somado a necessária criatividade) ousar no campo das conjecturas sobre expressões, frases e palavras dos rituais os quais celebramos ao longo da prática das nossas atividades religiosas.

No Jeje, somos ensinados a pronuncial a saudação “Arroboboi” para saudar uma série de Voduns. Para explicar o significado,cada Templo tem sua versão oficial, indubitavelmente correta e bem aplicada. Entretanto, pela ótica da pesquisa que desenvolvo em função de um Projeto de Resgate da Liturgia Jeje Corente com suas Correntes Formadoras na Diáspora Africana (título provisório), concluo por uma provável conjuntura semântica, associada a uma composição etmológica, a qual julgo altamente provável. É assim que surgem as raduções que caracterizam e tipificam a inha intervenção sobre os cantcos e rezas. Então, sob essa ótica e perspectiva, é que dou origem a uma tradução atualizada, ou seja, uma versão a mais para a Saudação sob interesse: Vejamos: A palavra da língua Fon (Fon gbe) Ahóahó, identifica uma serpente cor de cinza, muito rápida. A palavrá Gbó significa Grande. E uma postura linguistuca característica dos Ioruba-Nagô, e repetir a palavra compondo uma nova palavara que enfatiza o siginificado da palavra original. E o caso,por exemplo, da palavra Kéré, que significa pequeno, pequena. Essa palavra de origema palavra kérekére,que enfatiza de forma singular o significado de kéré,palavra a qual, por fim, no nosso jargão, virou kekerê. É assim que chamamos a Mãe Pequena de Iyá Kekerê. Por sua vez, a palavra Gbó, que signific ´grande´, evolvuiu para Gbógbó, ou seja, ´muito grande´,e eu retiro daí o sigificado da raiz etmológica Ahóahó Gbogbó :  Serpente Infinita.A palavra Yέ , significa Esprito. Daí, teremos, a saudação ;Ahóahó Gbógbó Yέ , ou seja, Salve o Infinito Espirito da Serpente., ou coisa parecida. Dai para Ahóahógbógbóyέ  e, finalmente, com o uso dinamico do termo, poderia, perfeitamente se reduzir a Ahóagbógbóyέ 

Espirito da Serpente Infinita !

Referencias :

1.    Le fongbe du Benin; disponível em: http://www.fongbe.fr/franc_vocabulaire/franc_vocabulaire_B.php  (acessado em: 06/02/15)


 
 
 
 

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Vodun Nanã Buluku




Alɔfún hwà. Sua Benção meu pai Doté Amilton de Sogbo
Uma frase da língua fongbe, falada no Benin,e idioma preferencial do Culto Vodun, pode representar a importancia de Ayizan, que é uma das referencias diretas ao Vodun Nanã. A frase diz assim:

Agbó ná bó xɔ̀ xwè wò ɔ́, Ayĭzan tɔn jɛ́n ná nyí

A tradução : Mesmo que a ovelha viva por dez anos, é ao Vodun Ayizan que ela foi dedicada.

Começo essa intervenção, entretanto, destacando a atitude de tolerancia e respeito a fé do seu próximo que, segundo depoimentos de prepostos da Fundação Follerau Louxembourg (uma Fundação que desenvolve trabalhos de ajuda por toda a África), carateriza o povo do Benin em relação as religiões. O povo Beninense é um povo extremamente religioso. Entretanto, é marcadamente tolerante em relação a fé e a prática religiosa do seu próximo. Tomando como referencia o que li dos depoimentos da Fundação citada, na minha experiencia de passagem por paises europeus, quando penso em povos de extrema fé católica, me vem a mente o povo italiano, com destaque para o povo de Roma. Se me volto para a Ásia (pois vivi no Japão por quinze anos) posso dar exemplos de povos muçulmanos, e aí, o meu destaque vai para indonéisos, paquistaneses,etc. Não são exatamente povos tolerantes com relação a práticas religiosas que não sejam as suas. No Benin, entretanto, ambas as religiões mencionadas, seja o catolicismo ou o islamismo, estão em todos os lugares.Nas cidades e aldeias, pode-se encontrar igrejas e mesquitas. A religião é um evento humano alí comemorado com grande alegria e entusiasmo. Ainda segundo depoimentos de prepepostos da referida Fundação, as pessoas de diferentes religiões vivem pacificamente umas ao lado das outras, e se tratam mutuamente com grande respeito e tolerância, algo que parece ser muito mais difícil na Europa,na Ásia, e no Brasil. E ai tomo mais um pouco desse espaço para enfatizar o que acontece no nosso país quando se fala a palavra `Vodun`. Várias correntes reigiosas, com destaque para as correntes catóilcas e as correntes evangélicas, associam a palavra a “feitiçaria”, “magia negra”, etc. Pessoal, o Culto ao Vodun é uma religião animista, politeísta e muito antiga que tem suas raízes no Benin, onde continua a ser um culto muito praticado, Aqui do lado brasileiro do Atlântico, nós estamos fazendo a nossa parte.Cultuamos os Voduns da família do Xɛbiosò, ou Hevioso no nosso Hunkpame Vodun Zo Xwe.

Agora, vamos ao foco desse pequeno trabalho:Nanã Buluku.

Nanã Buluku é a Deusa Criadora Primordial do povo Fon do Benin (quer dizer do povo do antigo Reino do Daomé, de onde vieram os negros escravos que viveram principalmente na região de Cachoeira de São Félix e do Reconcanvo baiano). Como Nana Buluku, é a Avó Primoridal de todos os Deuses, dos Gêmeos Cósmicos Mawu ( a Lua, o princípio feminino) e Lisa ( o Sol, o princípio masculino) nasceram de Nanã. Mawu e Lisa representam o Ovo Cósmico e a semente cósmica que comcluiram o processo de fecundação do universo . Então Nana Buluku é a barriga da Criação. Mawu é o Ovo e Lisa a Semente. Eles são o princípio da criação de tudo o que é, que foi e que sempre será. Nanã Buluku é a Grande Divindade, que vem em primeiro lugar de todos os antepassados. Ela é a Bisavó dos Deuses, mas também é Avó ancestral e progenitora da raça humana. Em forma humana, Nanã buluku era conhecida como Ayizan. Nannã é vista como uma velha avó negra, com o rosto coberto por ráfia de palmeiras (para homenagear as palmas de palmeira que ela usou para agregar a lâma primordial). Em seus braços Ayizan carrega uma cesta de raízes, cascas e ervas. Ayizan foi a primeira fitoterapeuta humanoa e para ela, o santo remédio é a raiz da mandrágora, pela sua  semelhança com a forma humana. A Mandrágora é um símbolo de seu marido humano. Ayizan é a deusa guardiã do entreposto de Alada e do mercado de Ajudá ,sendo ambas localidades, antigas fortificações que serivram de entrepostos aos “fluxos e refluxos” (Pierre Verger) transatlântico durante o infame tráfico negreiro. Ayizan, foi uma ancestral (antepassado) poderosa que nunca foi superada no conhecimento de ervas e raízes mágicas. A areia movediça (lama) é seu elemento sagrado porque circunda a sua casa e protege a vida selvagem.

 

Referencias:

1.      Pratique du Vaudou au Bénin; Foundation Follerau Luxembourg;


2.      Pantheon afrcaine; http://ko-chka.e-monsite.com/pages/pantheons/pantheon-africain.html ; acessado em 29/01/15;

3.      Phrases autor du Vodoun ; http://www.fongbe.fr/vaudou_phrase.php ; acessado em 29/01/15;